O ato de viajar envolve o movimento que leva pessoas para lugares fora do seu local de residência habitual, normalmente a lazer ou a trabalho. Esse movimento que provoca o deslocamento se dá a partir das razões encontradas para realizar algo, produzir experiências e contribuir para concretizar sonhos. É a base para que haja locomoção, possibilitando explorar ambientes, aprender sobre o destino e, principalmente, sobre o que se busca ao migrar.
Em algumas ocasiões, a prática da viagem é a busca por uma pausa nas atividades diárias, para mudar de clima, observar diferentes estilos de vida, saborear pratos novos e aprender sobre culturas diferentes. A motivação para viagens está diretamente associada ao hábito de se deslocar e aos desejos dos turistas.
Mas, e quando a motivação para viajar é o café? Quem nunca imaginou percorrer plantações de café conhecendo destinos nos quais existam museus do café e fazendas históricas em regiões cafeeiras? E o que dizer das cafeterias, equipamentos e maquinários, além dos métodos de extração para os mais variados grãos e tipos de torra?
É assim também para Ana Núbia Jacob, uma goiana apreciadora de café e designer de interiores, que, no momento de descanso ou férias, viaja exclusivamente em busca de conhecer cafeterias e métodos de extração, saborear grãos diferenciados. Ela gosta de conhecer máquinas disponíveis para extração do espresso, saber quais métodos são mais usados no país, cidade ou região, apreciar histórias e arquitetura local, além de fazer novos amigos. Ana possui uma lista significativa das cafeterias que conhece no Brasil e mundo afora. “Ao visitar uma cafeteria, em viagem no mês passado aos Emirados Árabes, perguntei qual o grão que indicariam, e me foram oferecidos grãos do Brasil. É muito gratificante, inclusive precisamos ter orgulho do que fornecemos para o mundo. Há muitos lugares incríveis aqui, muitos bons profissionais e trabalhos sérios”, conta animada.
DESCOBERTAS
O café abre caminhos, cria redes de afetos, oportuniza criar projetos e realizações. O viajante quer experiências, é movido por questões individuais que não necessariamente se baseiam em destinos turísticos famosos aonde todo mundo vai, mas também pela distância a ser percorrida, e para viver todas as emoções das descobertas e das eventuais adversidades encontradas no percurso. Afinal, quem nunca se imaginou atravessando o mundo em busca do novo? Quem nunca se perguntou: Até onde o prazer pelo café pode me levar?
A mineira Helga Andrade, turismóloga de formação, mas barista e degustadora de café por paixão, traduz o café como descoberta, uma forma para se relacionar com o mundo: “O café é o produto. Não só de quem o produz, mas também da terra, do meio ambiente, do microclima e do ecossistema. O café é conexão com a história da família, e todo o ambiente onde ele é produzido”.
Ela realizou viagens para o exterior focadas nos negócios do café especial, apresentando-o para o mundo, por meio das feiras internacionais, e visitando os principais países consumidores. Atualmente, Helga participa do projeto Coffee Trips, cujo propósito é roteirizar para aproximar a área produtiva e as cafeterias dos consumidores finais, bem como das pessoas que valorizam o café e a hospitalidade relacionada a ele.
Para Juliana Panini, paulista, e analista de BI (Business Intelligence), o café representa a possibilidade de viver uma variedade de experiências e é um momento especial por causa do seu pai, quem sempre preparou a bebida com muito cuidado. É aquele momento em que preparar uma xícara se transforma em algo sagrado, de reflexão e inspiração.
“Em 2017, conheci o mundo de cafés especiais. Fui para a Austrália em 2018 e fiquei lá por seis meses. Nesse período, fiz um curso de barista com o Barista Australia e desde então treino receitas em casa. Nessa pandemia, conheci a fazenda Cafezal em Flor, em Monte Alegre do Sul, São Paulo, e foi muito interessante a experiência de conhecer uma produtora de café e como funciona todo o processo do pé de café à xícara”, revela Juliana. Para ela, conhecer além do grão está sendo uma prioridade e viajar com o foco em café tem contribuído para que conheça lugares incríveis.
TURISMO DE EXPERIÊNCIA
Escolher destinos turísticos tem uma relação direta com as necessidades internas que cada ser humano apresenta. A viagem de experiência ou o turismo de experiência, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), motiva o turista do novo milênio a viajar para destinos nos quais seja possível aguçar os sentidos, viver grandes emoções, experimentar!
A jornalista Kelly Cardoso, criadora do perfil do instagram @cafe_afora, relata ter vivido uma experiência marcante ao visitar o prédio Burj Khalifa, o mais alto de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Lá, ela teve o privilégio de tomar café apreciando o pôr do sol: “Foi marcante. Uma das minhas melhores experiências de viagem”. Ela menciona ainda que, ao visitar o interior da Índia, numa pequena cidade, na fronteira com o Paquistão, hospedou-se na casa de uma família indiana. Apesar da dificuldade na comunicação, a pausa para o momento da mesa posta para o café da tarde com todos juntos era significativa a ponto de reforçar a ideia de conexão, compartilhamento e troca.
No Brasil, Kelly descreve uma experiência igualmente marcante: elaborou um roteiro no qual selecionou bairros de Belo Horizonte e visitou três a quatro cafeterias por dia. Conheceu lugares, conversou com baristas, descobriu métodos de preparo e provou cafés até então desconhecidos. Hoje, ela faz networking divulgando cafeterias e produzindo conteúdo sobre o tema.
Na capital mineira, há mais pessoas interessadas nesse tipo de turismo, como a Jasciara Don Mendonça, para quem a primeira viagem relacionada ao café se deu em São Lourenço, no sul de Minas, pela Rota do Café Especial. “Fui sozinha e não conhecia ninguém. Depois, voltei para fazer cursos e viver mais experiências, como a da colheita. A partir daí, não parei mais, fiz amigos, criei vínculos… Ainda tenho muitos lugares para ir, histórias para ouvir e contar… estou só começando”, relata.
ESSE NEGÓCIO CHAMADO CAFÉ
São muitos os motivos ligados às viagens para os negócios gerados pelo café. Os grandes eventos (feiras, campeonatos e convenções) são um bom exemplo. Nesses encontros, é possível realizar experimentos, como degustar e saborear harmonizações de cafés especiais, e ainda assistir a apresentações de baristas, palestras e treinamentos. Além disso, existe, na mesma oportunidade, toda uma cadeia produtiva que possibilita comprar máquinas e equipamentos, acessórios e adquirir cafés especiais diretamente com os produtores.
É o tipo de viagem que vem crescendo muito no Brasil, atraindo também aqueles que querem empreender no setor, como Vilma Maria Souza, uma pernambucana apreciadora de cafés que vem se planejando para abrir o próprio negócio e realizando viagens para criar uma rede de contatos e aprender. “Iniciei o desenvolvimento do projeto para empreender no ramo. Dei continuidade aos cursos, iniciei o plano de negócio, juntei um pequeno capital e, em paralelo, viajei pelo Nordeste para conhecer cafeterias”, conta.
Neste exato momento, milhares de pessoas estão cruzando o mundo em viagens cujo foco principal é o café. São muitas as motivações e as buscas por novas tendências de consumo, conhecimento e prestígio. Sempre haverá como atender aos diversos perfis e desejos dos apaixonados por café. Seja qual for a motivação implícita, viajar é um prazer. Tomar café, uma paixão. Até onde o prazer pelo café pode levar você?
Rosilei Montenegro - Pernambucana, Recifense, Turismóloga e apaixonada por tudo o que se relaciona ao café (rmgrov@gmail.com)
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